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Apresentação

A criação da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), por meio da Lei n. 11.640/2008, representou um marco para o extremo sul do Rio Grande do Sul, para a Região da Campanha e para a Fronteira Oeste. Isto porque, além de estas serem regiões estagnadas economicamente e carentes de investimentos, a UNIPAMPA é uma política pública, pois o texto da Lei de criação aponta a importância da sua inserção regional.

De fato, o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão em dez campi representou um impacto na vida de comunidades que, historicamente, encontram-se à margem do acesso ao ensino superior gratuito, democrático e de qualidade.

Os muitos fios da história, contudo, ensinam que o progresso não pode ficar atrelado eternamente ao passado. Ou, como nas palavras do poeta sevilhano Antonio Machado, “Caminante, no hay camino, se hace el camino al andar”.

A Universidade de hoje não é a de Bolonha, a de Paris ou a de Berlim; experimenta-se a multiversidade, na qual “[a] universidade é tantas coisas para tantas pessoas diversas que não pode deixar de estar parcialmente em conflito consigo mesma” (KERR, 1982), sem falar na realidade única multicampi.

Assim, é possível caracterizar os sete anos de UNIPAMPA como um período que, por certo, apresentou avanços, encontrando-se, contudo, aquém do que é possível fazer. Ainda em grande parte, o seu “retrato institucional” permanece circunscrito à sua criação.

Desta maneira, apesar de inovadora, em termos de expansão do ensino superior no Brasil, vive-se um tempo de repetição na UNIPAMPA. Atinge-se, aparentemente, o “fim da história” (FUKUYAMA, 1992). O presente da administração universitária alastra-se ao passado e ao futuro, canibalizando-os (SANTOS, 2004). Como resultado, vive-se um momento de total anestesia, sem orientação para o futuro.

Como o anjo da história (citado na epígrafe), contempla-se a acumulação de ruínas e de sofrimento aos próprios pés. Nas palavras de Benjamin, “articular o passado historicamente não significa reconhecê-lo como verdadeiramente foi” (1980, p. 695). A capacidade de retomar o passado deve estar, indubitavelmente, na possibilidade de emergir como fonte de inconformismo em relação ao presente.

A retomada do passado deve estar ligada a reinventá-lo como capacidade de explosão e de redenção. É o momento de transformar e, por meio da astúcia, equilibrar  o passado e o futuro. Deve-se visitar o passado, sopesando avanços, progressos, mas, também, os retrocessos, pois a história não é uma linha contínua.

Por isso, este projeto apresenta uma perspectiva de vida universitária a partir do comprometimento político com docentes, discentes e técnicos administrativos em educação. Para tanto, inspira-se em três grandes diretrizes: democracia, autonomia e empoderamento. Linhas que só serão possíveis de tornar realidade quando a Universidade sair de sua torre de marfim (ALMEIDA FILHO, 2007; RIBEIRO, 2003) e tornar o espaço público um espaço de exercício de cidadania e protagonismo.

Para tanto, somente a democracia e o debate aberto entre todas as categorias que compõem a Universidade legitimarão uma Gestão Superior. É possível debater abertamente o projeto que se quer de UNIPAMPA, assegurando espaço e voz a todos. Por ser um espaço público, a

Universidade deve reconhecer e valorizar o papel da participação da comunidade acadêmica e da comunidade local. No dizer de Álvaro Vieira Pinto “[a] reforma tem de ser feita de fora para dentro, por via política, e por força do potencial social adquirido pela classe estudantil nas suas ações de rua, na participação progressiva em todos os grandes problemas que dividem a opinião pública [...]” (1994, p. 61). Além disso, tem que ser assegurado o respeito à diversidade no ambiente universitário.

Contudo, a democratização só pode ser garantida se houver autonomia. As novas Universidades, criadas pelo programa de expansão do governo federal, estão, paulatinamente, sendo aviltadas e tornadas periféricas. Isto só é possível porque a UNIPAMPA tornou-se fiadora das políticas do Ministério da Educação (MEC). Não é possível ser súdito de dois reis! A Gestão deve estar comprometida com os interesses da comunidade acadêmica e não do poder (MEC, mercado e grandes forças econômicas). A Universidade é e deve continuar sendo do povo! (RAMPINELLI, 2011, p. 51). Para isso, precisa redimensionar a sua forma de atuar junto à Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), assegurar e fazer valer a sua autonomia constitucional junto ao MEC, estabelecer diálogos com entidades representativas de docentes, discentes e técnicos administrativos, ampliar efetivamente a autonomia dos campi e dialogar, permanentemente, com o poder local.

Por fim, com tais bases, é possível caminhar para a utopia possível de um processo sustentável de empoderamento da sociedade, conjuntamente com a Universidade, com ganhos quantitativos e qualitativos. Neste sentido, ocorre um comprometimento de uma via alternativa de construção de um projeto crítico e transformador capaz de estabelecer elos que superem o apelo apenas quantitativo das diretrizes fixadas pelos órgãos governamentais de fomento.

Este novo projeto universitário se volta à produção de saberes, qualificando constantemente docentes, discentes e técnicos administrativos por meio do estímulo a parcerias para inovação com órgãos públicos, além da incorporação dos saberes locais (comunitários) e dos movimentos sociais, desde que preservando o protagonismo das categorias. O envolvimento deve se dar por meio de processos de democracia participativa, consulta popular e todo o tipo de interação horizontal com a comunidade. Com isso, visa-se à adoção de uma visão pluralista e de engajamento do ensino, da pesquisa e da extensão tendo como base a participação da comunidade, com seus anseios e demandas, garantindo o diálogo intercultural dentro dos processos de integração que envolvem a UNIPAMPA.

Muito foi conquistado até aqui, porém é possível – e necessário – muito mais. Assim, faz-se essa apresentação como um convite à luta democrática, um convite à participação política. A mudança de projeto e a alternância no poder serão salutares para assegurar uma Universidade pública e de qualidade com a renovação através de um projeto emancipador capaz de ampliar o papel da UNIPAMPA dentro do contexto local, regional, nacional e do Cone Sul, adequando-a ao cenário de democratização que seguirá se constituindo nestes anos vindouros.

A UNIPAMPA pode mais!

Pampa Riograndense, 2015.

Fernando Junges e Hector Cury

 

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